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quinta-feira, 10 de abril de 2014

As mil e uma histórias de uma sinagoga na Croácia

* Sheila Sacks

Em Dubrovnik, no sul do país, casa de orações resistiu ao terremoto de 1667, a dois conflitos mundiais e à guerra na Croácia nos anos 1990


Em meio a lojas de comestíveis, quinquilharias e souvenires em uma das muitas ruelas tomadas por escadarias que levam as partes mais altas da cidade velha de Dubrovnik, uma porta de carvalho se abre para a mais antiga sinagoga sefardita da Europa, provavelmente estabelecida em 1352 e reconhecida legalmente em 1408.

O estreito sobrado de pedra situado na Ulica Zudioska (rua dos judeus) nº 5, abriga na parte de cima uma pequena sala de orações e no andar inferior um espaço com alguns objetos religiosos. Uma senhora cobra 25 kunas (em torno de 12 reais) pelo ingresso e avisa que estão proibidas fotos no local.

No interior da sinagoga, pesados móveis de madeira escura e ornamentos de prata abarrotam o recinto. Um banco de madeira contorna a sala onde alguns turistas suados, de bermudão e sandálias, aproveitam o sossego do lugar para tirar um cochilo, falar ao celular ou simplesmente recuperar o fôlego de suas andanças pela antiga Dubrovnik, declarada Patrimônio Mundial da Unesco em 1979 (a moderna Dubrovnik tem 43 mil habitantes).

Gueto é estabelecido em 1546

Os historiadores contam que há registros da presença de um médico judeu contratado pela administração da cidade em 1326 e de comerciantes itinerantes em 1368.  A comunidade judaica local teve um aumento significativo com a chegada dos judeus em fuga da Espanha e de Portugal, no final do século 15, muito deles a caminho da Turquia, mas que acabaram se instalando em Dubrovnik.

Em 1546, as autoridades permitiram o assentamento dos judeus no extremo noroeste da cidade, estabelecendo o gueto na Ulica Zudioska com um pórtico que o separava das demais moradias. Em 1667, um terremoto de graves proporções atingiu Dubrovnik destruindo grande parte de seus prédios. A sinagoga afetada pela catástrofe também precisou ser restaurada.

However, after Napoleon, Dubrovnik fell under various jurisdictions: the Austro-Hungarian Empire (1815-1918); the Kingdom of Serbs, Croats and Slovenes; a pro-Nazi independent Croat State during the Second World War; and a communist Yugoslavia under General Tito for much of the 20th DuranteDDuDurante a 2ª Grande Guerra, a Croácia estabeleceu um estado independente pró-nazista que abrangia as regiões onde hoje ficam as repúblicas da Bósnia e parte da Sérvia. Quarenta mil judeus viviam nesse conglomerado, e após a guerra restou apenas nove mil, sendo que três mil foram enviados para Auschwitz.

Sinagoga bombardeada

Durante o conflito que envolveu croatas e sérvios (1991/1992), Dubrovnik foi cercada e a sinagoga teve suas janelas e telhados destruídos pela ação de foguetes e granadas. O prédio também sofreu abalo em sua estrutura e parte do acervo foi transferida para os Estados Unidos. Em 1998, com a sinagoga já recuperada através da “Rebuild Dubrovnik Foundation”, de Washington, uma decisão judicial da suprema corte de Nova York determinou que os objetos fossem devolvidos, dentre eles uma Torá originária da Península Ibérica e um tapete árabe ofertado pela rainha Isabel da Espanha ao seu médico judeu, ambos do século 13.

Uma questão delicada que divide opiniões, já que muitas organizações judaicas temem o desaparecimento de peças históricas face a sua exposição continuada e à progressiva marcha de assimilação dessas comunidades. Por outro lado, estudiosos que se dedicam ao registro das comunidades judaicas da Idade Média na Europa central e oriental argumentam que a transferência dos objetos religiosos para os EUA e Israel contribui para a total extinção dessas comunidades, afastando-as de seu passado e negando-lhes um possível futuro.

Memória viva

Atualmente vivem 30 judeus em Dubrovnik, ainda que o censo oficial de 2001 só registre 17. O censo também listou 495 judeus em toda a Croácia que no início da década de 1940 somavam 25 mil. O esloveno Boris Pahor, de 100 anos, sobrevivente do Holocausto e autor do livro “Necrópole”, observa que a preservação de locais que representam momentos da história de um povo tem a valia de “dar continuidade à presença dos mortos no mundo dos vivos”.

Mas, Pahor também externa sua preocupação quanto aos sentimentos e as imagens que possam surgir nas mentes dos turistas que seguem o guia em suas explicações. Isso porque, em 1994, a partir de uma visita ao campo de concentração onde foi prisioneiro dos nazistas, o autor notou a falta de “familiaridade” e talvez até de consciência dos visitantes quanto ao grau de degradação e de infâmia a que foram submetidos, sem piedade, milhões de seres humanos.

No caso da pequena sinagoga de Dubrovnik, a inquietação também é válida, porém mantê-la aberta aos turistas em geral, mesmo sem a presença cotidiana de judeus e dos ofícios religiosos, garante a sua sobrevida e principalmente mantém o seu passado e a sua história presentes. Em 2003, o então presidente de Israel Moshe Katsav em visita à Croácia conheceu a sinagoga. Desde então, com o incentivo do governo croata, voos fretados de Israel para Dubrovnik trazem em média 250 turistas semanalmente à cidade nas temporadas de verão.

* Sheila Sacks é jornalista

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