Os conceitos emitidos nas matérias assinadas não representam necessariamente a opinião da editoria, sendo de exclusiva responsabilidade de seus autores. Todos os direitos reservados, vedada a reprodução de publicações sem o consetimento prévio da editoria.

quinta-feira, 6 de março de 2014

"Carta Aberta à Comunidade Judaica"

* Regina Broitman Santos

Venho por meio desta missiva esclarecer à comunidade judaica do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil, na qualidade de Presidente eleita da Sociedade Hebraica de Niterói, acerca da venda do clube que:
A Sociedade Hebraica de Niterói é um clube particular, sem fins lucrativos, e que objetiva o entretenimento e o congraçamento da comunidade judaica local, com foco em atividades sócio-culturais e esportivas. Fundada há 52 anos graças aos esforços e a contribuição financeira de seus sócios fundadores, hoje, a Hebraica é mantida pelo trabalho voluntário da sua Diretoria, pelas mensalidades de R$ 55,00 pagas pelos atuais 49 sócios proprietários e 20 sócios contribuintes e pelo aluguel de nossos espaços a uma grande academia esportiva.
A Hebraica de Niterói possui um Estatuto, autonomia jurídica, conselhos deliberativo e fiscal, bem como assessoria jurídica interna e externa, além do recém-criado Conselho de Vatikim, que fiscaliza as ações dos conselhos e assessorias, dando total transparência às decisões da Diretoria, que não são submissas à FIERJ nem a quaisquer outras instituições israelitas do Rio de Janeiro, tendo sido decidida a venda do clube através de votação aberta em assembléia, pela maioria dos sócios proprietários.
Registre-se que a Hebraica de Niterói teve seu auge nos anos 70, quando era frequentada por muitos jovens e crianças. Foi o período das grandes festas dos grupos universitários, quando tínhamos um grande núcleo do Hashomer Hatzair, além de atividades culturais com música judaica popular e chassídica, através de suas várias leakot. Recebemos inúmeros prêmios e troféus nos Festivais de Música Judaica do Rio de Janeiro e no Brasil, e revelamos grandes talentos até a comunidade maior, como a nossa estrela Ithamara Koorax.
Porém, há cerca de 30 anos, observou-se o começo de um processo de êxodo entre as famílias judias de Niterói. Isto provocou o esvaziamento não apenas de nosso clube, mas de todas as demais instituições judaicas da cidade. Com isso, a Hebraica chegou a um ponto crítico, à beira da falência, momento no qual o clube se viu obrigado a alugar o seu espaço para academias de ginástica. Graças a isto, salvamos a Hebraica da falência. Mas não pudemos resolver o problema do déficit gerado pela inadimplência, provocada pelo fato de uma grande parcela de nossos ex-sócios não mais se importarem com o clube.
Nesse passo, um grupo de sócios proprietários liderados por mim e pela minha família, insatisfeitos com esta situação e não aceitando a proposta de venda do clube, começou a trabalhar contra a venda da Hebraica de Niterói, através do fomento de atividades ligadas ao judaísmo tradicional e à cultura judaica, inclusive incrementando as atividades religiosas e restabelecendo o núcleo de movimentos juvenis sionistas, tais como o Hashomer Hatzair, o Habonim Dror e o B’nei Akiva (mesmo com pouquíssimas crianças e jovens), além de aulas de Hebraico e de dança israeli; artes; culinária e competições esportivas, sendo sempre apoiado pelas senhoras voluntárias da Wizo e da Naamat Pioneiras. Tudo isto culminando com a minha primeira eleição por voto direto para o cargo de Presidente da Sociedade Hebraica de Niterói, há sete anos.
Nesta nova gestão saneamos as finanças do clube, deixando-o em situação financeira confortável, com dinheiro em caixa e quites com todos os impostos. Mantemos o pagamento dos nossos funcionários e de seus encargos trabalhistas em dia, sendo tudo isto informado a todos os sócios através de balancetes trimestrais apresentados pelo jornal “Kadima”. No entanto, permanecemos alugando o clube, haja vista que a receita propiciada pelos R$ 55,00 mensais de 69 sócios (proprietários e contribuintes) não são suficientes para manter o clube de pé.
Assim, demos continuidade às atividades judaicas, fizemos uma reforma geral no clube, colocando um elevador panorâmico para que os idosos possam participar das atividades nos três andares; renovamos o salão de festas, o salão de jogos, as piscinas e banheiros; repaginamos o jardim e o anexo onde ocorrem os almoços (para 8 a 10 pessoas) e os churrascos gratuitos aos domingos, com cardápio variado da culinária judaica e geral; organizamos festivais de filmes judaicos, incrementamos as atividades do Coral da Hebraica de Niterói regido pelo maestro Mauro Perelmann e comemoramos as datas do calendário judaico, sempre abrilhantadas pelos talentos musicais da comunidade, tais como Varda Usiglio, Clarita Paskin, Grupo Zemer, Haroldo Goldfarb etc., além de artistas convidados da comunidade maior.
Infelizmente, apesar de todos os nossos esforços e da nossa luta árdua, fomos vencidos pelo esvaziamento do clube, devido à idade avançada dos sócios e inúmeros falecimentos, pela assimilação e pela quase inexistência de jovens, que continuam a migrar para o Rio de Janeiro em busca de uma comunidade judaica tradicional e repleta de pessoas, haja vista que nossa escola judaica fechou suas portas por falta de alunos há 30 anos. O snif da Naamat Pioneiras encerrou suas atividades definitivamente e as outras instituições da cidade também caminham nesta mesma direção.
Tristemente assistimos aos estertores de uma kehilá que nasceu e floresceu em nossas dependências, mas que agora chega ao seu fim por não ter resistido às exigências da vida moderna.
E que reste claro que o dinheiro obtido com a venda do clube será dividido igualmente entre seus sócios proprietários adimplentes, por decisão da Diretoria do Clube e apoiada em votação aberta em Assembleia, com amparo legal nos Estatutos da Sociedade Hebraica de Niterói.

* Regina Broitman Santos é presidente eleita da Sociedade Hebraica de Niterói.

Nenhum comentário:

Postar um comentário