COMENTÁRIOS SOBRE A CARTA ABERTA À COMUNIDADE JUDAICA, ENVIADA PELA PRESIDENTE ELEITA DA SOCIEDADE HEBRAICA DE NITERÓI, EM 28/2/2014, SRA.REGINA BROITMAN SANTOS
Foi com um misto de surpresa e indignação, que recebi através de mensagem eletrônica, a carta aberta supra citada.
Hoje compreendo através da leitura daquele documento, a dificuldade que tive quando Presidente da FIERJ (2006-2008), em tentar unificar as instituições comunitárias da cidade de Niterói.
De fato, naquela ocasião, já percebendo o que hoje se demonstra, tentei junto com meus companheiros de diretoria, antecipar-nos à trágica realidade da inviabilidade de sustentar as instituições, que tendo um patrimônio imobiliário invejável, poderiam ao se unir, garantir a permanência de um centro comunitário completo. Ainda que para poucos. Me recordo como insisti para que as diretorias da Hebraica, da Adaf e da Sinagoga de Niterói, aceitassem construir uma única sociedade na junção das três. E mesmo sem definir na época em que local, a ideia era que os patrimônios imobiliários se transformassem em um único, e a Sinagoga pudesse, com entrada independente, ser instalada em uma das duas instituições, e a locação da outra, garantisse o funcionamento integral da estrutura comunitária. Nem se cogitava em minha iniciativa, na venda patrimonial. Pois como é obvio de se observar, se os dois clubes alugados para academia de ginastica se mantem, serviria para a manutenção de uma única, e totalmente liberada para nossa pequena comunidade. E se ainda assim um único judeu existisse em Niterói, que ele pudesse ter a Sinagoga aberta. E ainda assim, em uma situação destas, que este patrimônio pudesse atender permanentemente, como sempre foi o desejo dos fundadores de nossa comunidade, à própria comunidade. E portanto o patrimônio resultante pudesse servir se não para a comunidade de Niterói, quando nenhum judeu mais ali residisse, para outros membros de nossa comunidade em outros locais, em programas educacionais, religiosos, sociais.
Hoje compreendo a resistência à esta ideia. Já passados 8 anos, quando percebi que o que vemos hoje estava para acontecer, não alcancei a resistência. Tentei, talvez de forma ingênua, convencer as lideranças da época, a trabalhar na direção da união comunitária. Sem nenhum sucesso.
Fracasso aliás também nas tentativas que fizemos em unificar as bibliotecas e os Lares de Velhos. Aqui em desabafo, registro a minha total reprovação à manutenção de paradigmas ultrapassados e que trazem pouca esperança na necessária reorganização comunitária, o que já defendia antes de minha presidência na FIERJ. Para ser mais preciso, mais de 10 anos antes, portanto há aproximadamente 20 anos de hoje, eu já defendia quase que solitariamente, a necessária reengenharia, com o uso do patrimônio comunitário para garantir a vida judaica. Se os anais do Conselho da FIERJ estiverem devidamente guardados, verão o projeto por escrito entregue ainda na gestão da Professora Sarita Fischberg, no último dia de seu mandato. Apresentei um projeto completo, depois de estudar por alguns anos a estrutura comunitária. E lá já pregava a união de instituições, já facilmente antevendo com dados, a situação trágica de hoje. É doloroso ver que não tivemos como grupo, a devida competência para tratar deste tema, e agora com esta atitude da Hebraica de Niterói, vermos o patrimônio comunitário ser levado ao patrimônio individual. Para mim, isto é um escândalo que mesmo sendo legal, como insiste em afirmar a Presidente da Hebraica de Niterói, talvez se antecipando a críticas como a que ora faço, deveria ser totalmente evitado.
Em nenhum dos casos anteriores de final de vida de uma instituição no entanto, houve a operação de agora. Instituições que fecharam, transferiram seus patrimônios a outras. E algumas vezes doadas ao Chevra Kadisha, ao Hospital Israelita, ao Lar das Crianças, ao Lar dos Velhos. Até patrimônios pessoais foram deixados em legado a várias instituições. Mas um patrimônio comunitário posto à venda, não em benefício da própria comunidade, mas em benefício de sócios adimplentes, que pagam mensalidades irrisórias, visto que o Clube é sustentado por locações, é mesmo alarmante, como se lê na carta aberta da Hebraica de Niterói. Pode ser que alguns dos sócios sejam novos, ou não tenham vinculações com a história de nossa comunidade, ou ainda não se recordam do espirito comunitário que os fundadores tiveram.
Se do ponto de vista legal nada pode ser reprovado, e o direito garanta a operação imobiliária que transforma sócios desta instituição em proprietários de frações ideais, do ponto de vista comunitário, certamente isto não deveria ser feito. Não sou sócio da Hebraica de Niterói, portanto poderia ouvir uma resposta de que não tenho nada a ver com isto, que é uma entidade privada, que não tem que se submeter a nada além do interesse de seus sócios, etc, etc, etc,...E que eu não sou convidado a opinar sobre os destinos desta Instituição. E na verdade este argumento é correto. Não sou sócio de lá, mas quando na liderança de nossa comunidade, lá estive e participando de atividades e valorizando nossas instituições niteroienses, da mesma forma que o fiz com as instituições da capital. Com a mesma intensidade. Mesmo não sendo sócio, minha atuação comunitária, junto com vários companheiros, nos credenciam para nos manifestarmos diante de um quadro como este.
Mesmo considerando que eu não tenho direito legal nesta questão, e portanto não poderia votar nesta má decisão segundo meu julgamento, considero que o silencio das lideranças, a aceitação também silenciosa desta atitude, vai gerar um caminho de destruição do patrimônio comunitário em benefício de alguns poucos que possam se interessar por um patrimônio imobiliário. E garantir com mensalidades mínimas, um pedaço de uma venda. Pensem bem nas nossas instituições que já não tem quadro social relevante para garantir as suas existências, e vivem de alugueis. Observem o risco que é aceitar esta iniciativa da Hebraica de Niterói, sem resistir. O mau exemplo pode se transformar em uma onda nefasta.
Ainda é hora de frear este mau exemplo comunitário. Ainda que de direito possa ser tratado. Insisto, que há correção na forma jurídica, mas é hora ainda de evitar esta perda comunitária. Que os dirigentes atuais da Hebraica de Niterói e seu quadro social que aprovou a medida, que traz benefícios financeiros pessoais e não comunitários, possam se reunir novamente, revogar a decisão errada a meu juízo. Não sou dono da verdade, pode ser que eu esteja totalmente enganado, mas me parece que este fato necessita de mais envolvimento das lideranças de nossa comunidade.
Esta decisão demonstra nossa falência, e nossa incapacidade como grupo. Quando o oposto a isto demonstraria nossa capacidade de se adaptar aos novos tempos, e garantir a existência de centros comunitários, sem depender de doações daqueles que são os mesmos sempre. E que certamente se cansam de sustentar atividades que de tão divididas, perdem sua importância. Pensem que este patrimônio garante o funcionamento de sinagoga, poderia ajudar o Froim Farain, a Rai, o Lar da Esperança, a FIERJ, o Fundo Comunitário, para garantia da preservação da vida judaica, onde necessário. E muito mais.
O enorme patrimônio comunitário, poderia garantir com facilidade, o funcionamento de várias instituições que não podem ser fechadas.
Temos que destampar estas panelas fechadas, e enfrentar as resistências com mais competência do que a que tivemos. Não vamos adiantar nossas matzeivot comunitárias. Vamos resistir. É preciso frear esta iniciativa, e transforma-la em benefício de nossa comunidade. Se o fim da instituição é inevitável, que seu patrimônio sirva para garantir a existência de outra instituição. Que empresários de nossa comunidade se interessem para que o valor auferido em benefício de nossa comunidade, possa ser o melhor.
Conclamo nossas lideranças a enfrentar esta situação, para garantir o sonho dos fundadores de todas as nossas instituições, aonde estas estiverem.
E que tenhamos uma solução comunitária. Caso isto não seja conseguido, que este exemplo não seja seguido por nenhuma outra instituição.
Atenciosamente,
Sergio Niskier
Ex-Presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro e Presidente da Câmara Brasil Israel de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro
Sergio Niskier
Ex-Presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro e Presidente da Câmara Brasil Israel de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro
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