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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Me formei em liderança na CONIB, e agora ?

-  " Me formei, e agora ? Essa é pergunta que o grupo de ex-alunos do curso de Princípios e Valores da Liderança Empresarial e Voluntária da Confederação Israelita do Brasil (CONIB), tem sido feita e debatida exaustivamente ".

Tuli Lerner de Berredo
A declaração é de Tuli Lerner de Berredo, que recentemente concluiu esse curso e à convite do Conselho Deliberativo da FIERJ, explanou na sessão realizada, os objetivos do programa que visa, essencialmente, aprimorar as competências dos atuais e futuros líderes da comunidade judaica brasileira. 

É sabido que as instituições judaicas clamam por novas lideranças, mas como atrair esses jovens com especialização, absorver seus conhecimentos e pôr em prática a capacitação adquirida, é o que Tuli aborda com exclusividade à seguir.

Aí vai a entrevista.

Como vê a declaração " me formei, e agora ? " que soa um pouco estranha para quem possui especialização em liderança para apontar caminhos. 

- Imagino que esse questionamento seja recorrente em todos os outros cursos de capacitação de líderes que a comunidade oferece. Afinal qual o papel do líder ? Liderar é a resposta óbvia, entretanto liderar o que ?

Vivemos uma crise de liderança e boas referências, que está sendo agravada pela crise financeira, desvios de conduta de representantes, crescimento desordenado das áreas urbanas, que concentra renda e conhecimento, falta de segurança e com muitas famílias desestruturadas, desamparadas e perdidas no meio disso tudo. Muitas pessoas consideradas de sucesso, começaram do nada e fizeram de tudo pra obter o sucesso, tendo muitas vezes servido de um exemplo ambíguo de onde chegar, mas com trajetórias questionáveis no âmbito moral atual.

Qual é o principal tema do curso ?

 - O principal tema desse curso foi ética e pensamento crítico. Ética é agir conforme nossos valores. Pensamento crítico resumidamente se da no ato de contrapor nossos valores aos da sociedade em que vivemos e com isso verificamos se nossa moral está ou não de acordo e analisamos se seremos um agente de mudança que representa um consenso moral que não está representado pelos valores vigentes na sociedade, ou se nossa moral deve ser repensada. O processo do pensamento crítico é o mesmo do surgimento de um líder.

É impossível saber quem será um líder, mas é muito fácil reconhecer um, entretanto é muito importante que o líder conheça as melhores ferramentas para obter sucesso. E conhecimento é a única coisa que quando se divide, se multiplica. E por isso é muito importante, diria até essencial para nossa continuidade, continuarmos investindo na capacitação de pessoas de bem.

Como vê o surgimento de um líder ?

 - O líder surge de uma inquietação, uma visão, e da legitimação que seus seguidores lhe dão.
Pelo o que percebo, atualmente temos a inquietação, mas a visão ainda está turva, e não há legitimação de novos líderes.
Digo que temos a inquietação, pois vejo isso na Associação de Ex-alunos do curso. Isso é geral, em todos estados e classes sociais.
Digo que a visão é turva, pois não há um consenso do que é necessário ser feito. Tudo que chega a nós é que precisam de jovens, mas a única motivação é a renovação, coisa que é muito bonita, mas que parece não ser o suficiente para atrair gente nova.
Quando digo que não há legitimação de líderes jovens, digo isso porque como não há um plano nem um consenso, também não há cenário para surgimento de lideranças. As lideranças mais antigas por mais que queiram passar a bola e em alguns casos estejam perdendo representatividade, tendo como exemplo o baixo número de pessoas que votam nas eleições de nossos líderes, continuam tendo que seguir em frente no caminho que traçaram, mantendo suas posições, pois o histórico lhes respaldam e acima de tudo, porque continuidade é essencial.

Diria que nesse momento o que é mais importante é clarear está visão turva, para depois enfim termos as instituições prosperando e as lideranças surgindo e ocupando seus lugares naturalmente.
 Não há vento a favor para quem está sem direção.

E como clarear essa visão turva ?

 - Penso que a melhor forma de clarear a visão comunitária é o planejamento. E o ponto de partida na minha humilde opinião é cada instituição entender o que está precisando e tornar isso bem atrativo.
Assim como quase tudo na vida, o voluntariado também é uma relação de troca. Existem voluntários que trabalham por paixão ajudando causas que mexem com seus sentimentos, outros vão para ganhar experiência de vida ou profissional, outros para ganharem dinheiro fazendo algo que consideram importante.

Qual desses voluntários as instituições precisam ?

- Se é o apaixonado, a causa deve ser íntima e o projeto lindo.
Se é o que pretende ganhar experiência, deve haver um projeto claro com treinamentos e prática, e se houver algum tipo de certificado seria ainda melhor.
E se for voluntário pago é ainda mais simples. É só pagar o que o mercado pagaria ou se aproximar disso tendo como benefício trabalhar em algo que este pensa ser importante. E quando um parente ou amigo estiver trabalhando nisso, dar o Kavod que este merece ao invés de criticar o orientando a ir ganhar mais no mercado.

No caso de haver um projeto de ação, como atrair os jovens ?

 - É muito difícil convencer um jovem a ir a qualquer lugar que seja, independente onde, o que, quando, com quem e como. Isso se deve a várias coisas, mas podemos resumir em Custo de Oportunidade dentro de um cenário de escassez de tempo na época do imediatismo.
Somos assediados para investir nosso tempo e milhões de coisas. Família, amigos, redes sociais, eventos, projetos, empreendimentos, viagens, empregos, hobbys, televisão, esporte, e uma infinidade de outras coisas que saltam diante de nós. O processo decisório fica mais demorado, pois quando se tem uma opção, já está decidido, mas quando se tem múltiplas opções, ao decidir por uma estamos colocando na conta dela não fazer todas as outras.

E se a instituição não tiver um projeto e sem iniciativa de fazê-lo ?

- Aí, a boa é "pedir ajuda aos universitários!", rs brincadeiras à parte, quando não se sabe o que fazer se pede um conselho, contrata uma consultoria, ou se monta uma comissão para se atingir o objetivo. 
Neste caso, sugiro que peçam conselho. Se dirijam para o Conselho Deliberativo da Federação e se exponham. O Conselho está lá justamente para isso e é reflexo da não utilização do mesmo a situação atual de nossas instituições.
A consultoria também é uma boa, mas entendo que isso tem custo geralmente. Entretanto aposto que se uma instituição pedir ajuda para que seja montada uma equipe de consultores, teriam pessoas altamente qualificadas que poderiam investir tempo ou dinheiro nisso.

O que gostaria de acrescentar.

- Nessa entrevista apresentei sugestões sem pretensão conclusiva,
deixando a reflexão para os leitores e as instituições.

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Um comentário:

  1. Primeiramente cumprimento Jakob Zajdhaft pela criação deste blog. Título especial, parabéns!
    Gostei muito das palavras de Tuli Lerner Berredo definindo o conteúdo das instituições judaicas e concordo com ele.
    Um abraço,
    Eliana Ellinger

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